segunda-feira, 28 de março de 2011

A arte de lavar roupa (Luis Adriano Correia)


Quem lava roupa
Pensa na vida!

Quem lava roupa sente a vida passar diante da roupa lavada
Sente a história das roupas
Sente as mãos frias de sonhos.

Quem lava roupa não lava somente a roupa
Lava o orgulho e a soberba
E sente cheiro do novo.

Hoje lavando a roupa
Senti um cheiro de história
Da vida passada e de anos levados embora
O cheiro que exalava das roupas ainda molhadas
Trazia presente o jasmim de “Seu Abel”
Onde minha mãe e outras mulheres lavavam roupas
Quando faltava água em nossas casas.
E vinha a lembrança dos pinotes que eu dava às vezes só
Às vezes com outros meninos
E minha mãe gritando: “Tá sujando a água menino!”
Lembrei do caminho que nos levava até lá
Estrada de barro batido, e uma estreita trilha pra chegar
Do alto alguém gritava
Pra saber se tinha gente embaixo
Talvez tomando banho
Ou lavando os seus próprios pratos.
E quando não tinha ninguém
Lá íamos nós...
Sentir o cheiro do sabão bruto nas roupas
Dos cajás que caíam na água
Do seu doce sabor azedo
E da brincadeira que só cessava
Quando o sol já quase sumindo.
E com a bacia cheia de roupas cheirosas
Iam embora minha mãe e nossas vizinhas.
Os filhos delas e eu.
Hoje depois de homem feito lavei roupa
Senti-me criança de novo!

Lavei roupa!
Com a vida passada no cheiro do sabão...

Lavei Roupa!
Com a vida agora vivida esfregada pelas minhas mãos...

Lavei roupa!
Com a vida que há porvir evaporando com gosto e cheiro de sabão.

Caruaru, 24 de março de 2011.

quarta-feira, 23 de março de 2011

De amor e de Morro (Luis Adriano Correia)





As luzes do alto do morro
Lembram-me coisas não vividas
E se não vividas
Porque lembradas?

O Bom Jesus abençoa
Moradores e namoradores
Encantador por sua beleza
Em desigualdades escondida.

Queria eu ter subido
As escadas que levam a ele
Se levam ao bom Jesus ou ao morro
Sei que não morro sem nenhum deles.

Nem estou agora em seu cume
Nem durmo mais a seus pés
Mas de cá de longe o avisto
E quem sabe um dia conquisto
O direito de saber quem és.

Escrito em Caruaru na madrugada de 18 de março de 2011. (dispensa descrições)


sábado, 19 de março de 2011

Tracejados afins....


Entrego-me às madrugadas
Mesmo que me dilacerem.
Tento não ser convencional
Para que assim não me torne
O “ser” que os outros querem.


sexta-feira, 18 de março de 2011

Soneto aos ventos amantes (Luis Adriano Correia)


Devia ser eu feito vento
Ligeiro a passar pelas ventas
E com vida assoprar poesia.

Devia entrar pelas narinas
E com melodia e arte
Encantar-te num fino assobio.

Tu devias teu peito encher
De ar puro e demais confiante
Abundante queria eu ser
Ser também teu eterno amante.

Tu devias se dar ao prazer
E não te tornar ofegante.
O que pensas que tem em teu peito?
Tens pulmões ou agora és fumante?

Escrito em Caruaru na madrugada de 18 de março de 2011, sentindo os ventos ligeiramente frios que sopravam da janela de meu quarto.


quarta-feira, 16 de março de 2011

Avancemos para águas mais profundas¹


Luis Adriano Correia da Silva²

Eis que se renova o pedido!
Eis que um novo tempo chegou!

Avançar para águas mais profundas, sair das águas espraiadas e ter força para enfrentar o alto mar não é tarefa de fácil realização. É preciso encantar os tripulantes. É preciso fazer com que percebam que o sonho contido nesta nau seja um sonho coletivo, trazidos pelas mãos calejadas de homens e mulheres que em sua juventude remam em busca do novo. É preciso buscar a profundidade das águas. É preciso arriscar-se. Mas essa busca não pode limitar-se apenas ao anseio. Encantamento não basta! É preciso organizar os trabalhos e dividir as tarefas, assumir nossas responsabilidades e amar, mas amar incondicionalmente. Como um dia aquele jovem nazareno, que desde outrora é quem lidera essa expedição, amou e continua nos amando. Afim de que tenhamos mais e mais amor pelas gentes e pela juventude. Por isso é que não queremos avançar sem saber o que virá. Temos objetivos, sabemos a quem encontrar. Agora nos resta ter coragem de irmos de encontro às águas inquietas, e orientados por Jesus Cristo, nos aquietaremos nas noites em torno da palavra que Ele anuncia, e nos faremos inquietos de dia lançando às redes onde Ele mandar. E faremos ecoar das bases uma Pastoral autêntica, que brota da vida e da história do jovem popular, a partir de seus sonhos e desafios, e de uma tão esperada reconstrução de valores. Tendo a mística estampada em seu testemunho, e a espiritualidade cristã marcando e sincronizando o ritmo das remadas a gritos coletivos por vida plena.
Avançar significa ir até onde outros ainda não foram, ou simplesmente abandonaram o barco no meio do percurso, ou até mesmo tomaram outras direções. O mar é imenso! É preciso direcionamento, foco! Onde nos encontramos neste imenso mar da caminhada da PJMP? Para onde estamos remando? Estamos ouvindo Jesus falar? Talvez nos enganamos em confiar na nossa grande experiência de pescadores/as e não atentamos aos verdadeiros sinais. Aqueles vindos da simplicidade das experiências. Chegamos muito longe. Alcançamos muitas vitórias. Não podemos agora descansar nas areias da praia. O mar é o mesmo! A vida contida nele é outra! É hora de refazer o percurso, por esse motivo renova-se o pedido!

Eis que novo tempo chegou!


1. Texto escrito por ocasião dos 25 anos de história da Pastoral da Juventude do Meio Popular na diocese dos Palmares, Pernambuco, em 26 de março de 2011.

2. Luis Adriano Correia da Silva. Professor Especialista em Gestão da Escola. Militante engajado da Pastoral da Juventude do Meio Popular. Diocese dos Palmares-PE.


Tracejados afins...

"Relacionar-se é como coreografar uma apresentação artística. Leva tempo até que os artistas sincronizem todos os passos. Ensaiam, erram, superam-se! E apresentam no teatro da vida o grande espetáculo de duas ou mais vidas convertidas em uma só".

Escrito na segunda-feira de carnaval de 2011, em Olinda, buscando inspiração para sincronizar meus passos.