sábado, 27 de março de 2010

Madrugada de Trovões (Luis Adriano Correia)


Chega de aflições
Teorias e concepções
De tentar encontrar os vilões
Que aqui dentro já foram encontrados.

Chega de forjar prisões
Teatrar manifestações
Se nem mesmo mais os vilões
Se preocupam em serem caçados.

Chega de maquiar o amor
Com cores frias de dor
Liberte a quentura, o ardor
E não tente esconder o que sente.

Chega de inventar emoções
De distorcer as versões
Já não suporto mais invenções
Pra causar dor simplesmente.

Já não temo mais os trovões
Nem mais anseio os verões
Vivo meus próprios sertões
E desse jeito é que passo.

E a cada feito que faço
Na madrugada me estendo
E continuo escrevendo
E espero o próximo passo.

Ibiratinga, madrugada em trovoada de 25 de março de 2010.

Leia-me (Luis Adriano Correia)


Sou assim mesmo
Encarno a contradição
Encaro a decepção
Engano a minha própria emoção.
Mas sinto bater bem forte
Mesmo sem muita sorte
Pulsando o meu coração.
Que no abismo me lança
Sem ter qualquer esperança
De agarrar-me nas hastes.
E desse jeito me lança
Atrás dos sonhos me lança
Atrás do impossível me lança
E eu simplesmente me jogo.
Talvez seja eu desse jeito
Bem assim desse jeito
Ser imperfeito
Mas ser “sujeito”.
Não negando o inquietante
Me torno ser atuante
E se assim estiver tão errado
Creio que não me endireito.
Se te cuido, me cuido recíprocamente
Se tu não me cuidas mais
Continuo te cuidando
Pois cuidando de ti dentro de mim
Cuido de mim assim, automaticamente.

Ibiratinga, madrugada de 23 de março de 2010.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Marasmo (Luis Adriano Correia)


Tem desses dias que agente sente
Anestesia, entorpecente
Dias de puro corpo dormente
Dias e dias do amor de quem sente.
Dias assim tão inevitáveis
Em que nem tiro fere mais agente
Dias que a vida passa demente
Dias sem graça
Ao passo em que passa
Nem passa mais gente.

Ibiratinga, madrugada de 17 de março de 2010.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Meninos e Meninas (Luis Adriano Correia)


Menino olha menina
Menina olha menino
Menino sente menina
Menina sente menino.

Menina, menino, meninos
Meninos pelos meninos
Meninas pelas meninas
Assim, nos mínimos desatinos.

Meninos descobrem meninos
Meninas descobrem meninas
E assim vai surgindo o afeto
A diversidade e o concreto
Conflitos e afinidades.

Pedras, pedras, pedras...
Flores, flores, pedras...
Mas, enfim, quem liga?
E assim agente vai digerindo
Sem medo de dor de barriga!

Ibiratinga, 22 de fevereiro de 2010! (Pra variar na madrugada....)

Vivo, no mais existo... (Luis Adriano Correia)


Na beira da praia, andei
A cada passo na areia, voei
Nos meus pensamentos voei
Nas teorias existenciais
Nos avanços e retrocessos, pensei.
Não sei se podia ou se devia,
Simplesmente me permiti, chorei.

Lembrei de você
Tão fácilmente lembrei
dos vários codinomes de cazuza, sonhei
Em ser beija-flor, idealista, radical, teu amor!
Em ser ator nesse palco, amei!
E além do mais te confesso
Eu não sou capaz de mudar o processo
Mas seguindo o meu coração admito, tentei.
E enquanto ele continuar pedindo
Saio do passado, corro pro futuro
feito bobo, feito menino
Assumo meu desatino e tentarei.

Ibiratinga, madrugada do dia 22 de fevereiro de 2010.

terça-feira, 2 de março de 2010

Codinome Sonhador (Luis Adriano Correia)


Que sorte a minha de ter nascido!
Só de pensar no sufoco que foi ganhar
Dos outros milhões de gametas
Já me sinto desfrutando o cúmulo da sorte.
E assim vem sendo a minha vida,
Como a de quem não nasceu para bastidores,
Como a de quem não quer passar despercebido...
Mas nem sei até que ponto isso é bom sabe!
Acreditem!
Sonhar não compete a seres coadjuvantes
Que vivem a sombra do que virá.
E o que virá?
Se não tenho sonhos,
Responda quem puder o que quiser
Pois qualquer coisa servirá.
Os sonhos são como candeeiros acesos
Mesmo sendo guardados na gaveta da escrivaninha
Não nos deixarão de arder por dentro
Até que tenhamos coragem de deixarmo-nos consumir
Expandindo o fogo dos nossos sonhos mais ousados.
Por isso junto com os trecos que carrego no meu bisaco
Carrego as angustias que trago
Junto a pequenos frascos de profunda emoção
Para que as mesmas sejam embebidas em sentimento
Sentimento que me permite viver com dignidade minhas frustrações
Ajudando-me a garimpar verdadeiras preciosidades
Em meio aos cascalhos das desilusões
Tornando-me assim garimpeiro no território das perdas.
Por pensar assim é que me sinto assim sertanejo
Capaz andar léguas pelas estradas de barro vermelho
Pastoreando as vacas que ainda resistem
Em meio à caatinga em seca
E jamais perde a esperança de que um dia
A chuva virá incessante.
E assim fará tudo brotar novamente
Onde não havia expectativas
Onde não havia esperança
Vem os sonhos como a chuva
E fertiliza o solo do coração da gente.


Ibiratinga, madrugada do dia 28 de fevereiro de 2010.